segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mentira nossa de cada dia.

Eu demorei tanto pra fazer um novo post que até pensei que não postaria mais aqui.
Mas resolvi continuar.
E pr'um próximo post, no mínimo interessante, resolvi escolher como tema a "Mentira".
O que é mentir, em primeiro lugar?
Alguns podem afirmar que é "dizer inverdades, dizer coisas que não são verdadeiras", outros que "mentir é não dizer a verdade, mas como a verdade é relativa, mentir também é relativo, então depende do ponto de vista".
Segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:
mentir. [do latim mentire] V. int. 1. Afirmar coisa que sabe ser contrária à verdade; dizer mentira(s) 2. Errar no que diz ou conceitua 3. Dar uma indicação ao contrária à realidade, induzir em erro; ser causa de, ou dar margem a engano; iludir 4. Cessar de ser bom, legítimo, verdadeiro, degenerar.
Entramos em contato com a mentira logo cedo, na infância. Ao criarmos um mundo de fantasias onde fugimos da realidade, estamos, mesmo que sutilmente, mentindo. A nossa imaginação nos dá asas para que criemos uma realidade paralela onde acontecem as mais inacreditáveis aventuras. É a partir daí que começamos a ter uma noção do que é inventar e/ou modificar a realidade.
E a mentira nada mais é do que uma invenção ou uma modificação da realidade. Há pessoas que dizem que não mentem, apenas omitem, ou então modificam a verdadeira situação. Não tratarei aqui de como mentira e omissão se correlacionam.
O que interessa mesmo, é saber porque mentimos e como isso nos afeta, tanto pessoalmente como nos relacionamentos sociais, à nivel familiar, de amizade ou até mesmo profissional.
Tentarei explicar um pouco como acontece a mentira no nosso cérebro.
Mentir depende de muitas áreas do nosso cérebro, a primeira é o córtex pré-frontal que tem a "vontade" de dizer a verdade, mas que ao perceber que a intenção é a mentira, elimina a verdade e busca uma alternativa para aquela ocasião. O córtex cingulado anterior, que é uma parte especializada em conflitos, entra em ação para buscar essa alternativa e pô-la em prática através do sistema da fala. Temos dois tipos de massa em nosso cérebro, a massa branca, que atua na criação de informações, e a massa cinzenta que as processa. Estudos mostraram que "os mentirosos patológicos têm até 26% a mais de massa branca no córtex pré-frontal que os demais, onde acontece uma intensa transmissão de informações que ajudam a inventar as mentiras. Além disso, eles têm 14% menos massa cinzenta na área que controlaria os impulsos que usamos para julgar o certo e o errado." Até os seis anos de idade a criança possui mais massa branca que cinzenta, por isso o hábito de fantasiar. É após essa idade que ela começa a entrar mais em contato com a nossa realidade.
Quando vamos contar um história, repassar uma informação (muitas vezes em forma da famosa "fofoca") achamos que aquela verdade pode ser modificada para que se adeqüe ao momento. Fazemos então o que o dito popular fala: "quem conta um conto, aumenta um ponto". É normal adicionarmos informação inexistentes ou mudarmos as que existem. Assim, entendemos que a "nossa" história está melhor, mais interessante, ou até mesmo mais verdadeira do que a original.
E porque mentir?
A mentira, muitas vezes, traz vantagens que a verdade não traria. Isso faz com que as pessoas se sintam mais induzidas a mentir. Aquela pessoa que tem um valor moral maior, um senso crítico de que a mentira pode ser mais tarde descoberta ou até mesmo que algo pode dar errado se a mentira falhar, tem maior tendência em evitar a mentira, ou de pelo menos "remediar" a verdade.
Pessoas que não se preocupam com o que poderá acontecer depois, ou que juram que a verdade não será descoberta, têm sérios riscos de se tornarem mentirosos assíduos. Os mentirosos patológicos, como já foi explicado, tem áreas afetadas em seu sistema nervoso, áreas que os diferenciam de pessoas normais. Essas pessoas, muitas vezes, simplesmente não conseguem controlar seu ímpeto de mentir, e até mesmo em pequenos e insignificantes detalhes colocam sua imaginação pra funcionar e adicionam informações para eles relevantes.
Mas se formos parar pra pensar, os próprios escritores são grandes mentirosos. Eles têm a capacidade de fantasiar um mundo que não é deles e que, em vários casos, nem mesmo existe em nossa realidade (que é o caso dos escritores de ficção científica). Imaginam cenários com vários personagens e inúmeros acontecimentos. Fazem da sua ilusão a distração alheia. E nós compramos esta mentira. Podemos nos ater a um ponto em que, mesmo evitando a mentira, muitas vezes "compramos" uma realiade que não é a nossa, e fica a pergunta "Porque?", novamente.
As razões são incontáveis e as mais diversas possíveis. Como por exemplo: insatisfação com a própria vida, querer se aventurar imaginariamente em outros mundos, uma válvula de escape, ou até simplesmente a vontade de conhecer coisas novas. Afinal, até num livro de ficção científica, acabamos conhecendo um pouco da vida dos personagens, suas formas de pensar e opiniões, com as quais concordamos ou não, incorporamos ou descartamos.
E como isso nos afeta?
Quando a mentira é descoberta, por mais desagradável que seja a situação, há muitas maneiras de se tratá-la.
A mentira pode acabar até se tornando uma verdade. Há pessoas que usam uma mesma mentira há tanto tempo que passam a acreditar nela, e quando essa mentira é desvendada, a pessoa pode até ter ataques incoerentes de raiva ou outras emoções, por acreditar que a sua verdade construída sobre uma mentira está agora sendo posta em dúvida.
Falando a âmbito pessoal, a mentira pode nos deixar angustiados, tristes, ansiosos. São sintomas muitas vezes confundidos com o medo. Medo de que se descubra a verdade.
Na família é comum a criança mentir para os pais com medo de repreensão. Na escola o adolescente mente para ser aceito em seu grupo, para não se sentir diferente.
Grande parte dessas mentiras pode causar pequenos danos ou até dano algum. Porém quando falamos em profissionalismo, temos que tomar cuidado com a mentira, isto pode afetar nossa carreira profissional para o resto de nossa vida. Uma demissão por justa causa não fica nada bem no currículo.
Mas foi falado tanto em mentira, e a verdade? Será que é sempre que estamos preparados para ouví-la?
É uma questão em que não entrarei agora, pode ser que em algum próximo post eu fale deste assunto. Mas não custa nada deixar a pergunta para que possamos pensar um pouco a respeito.

"Tem que jura que a vida é virtudeTem gente que faz o bem por falsidade
Não há no universo uma força que mude

O dom da mentira, o som da verdade

A lábia do sábio, a arma do rude

São Deus e o Diabo unidos na prece"
(Sá e Guarabyra)

E aqui uma música que achei a "cara" do assunto:

Mentir
(Noel Rosa)

Mentir, mentir
Somente para esconder
A mágoa que ninguém deve saber
Mentir, mentir
Em vez de demonstrar
A nossa dor num gesto ou num olhar

Saber mentir é prova de nobreza
Pra não ferir alguém com a franqueza
Mentira não é crime
É bem sublime o que se diz
Mentindo para fazer alguém feliz

É com a mentira que a gente se sente mais contente
Por não pensar na verdade
O próprio mundo nos mente, ensina a mentir
Chorando ou rindo, sem ter vontade

E se não fosse a mentira, ninguém mais viveria
Por não poder ser feliz
E os homens contra as mulheres na terra
Então viveriam em guerra
Pois no campo do amor
A mulher que não mente não tem valor

Saber mentir é prova de nobreza
Pra não ferir alguém com a franqueza
Mentira não é crime
É bem sublime o que se diz
Mentindo para fazer alguém feliz



Fontes:
http://www.defesanet.com.br/esge/teoria_mentira.pdf.
http://www.destaquesp.com/index.php/Comportamento/Reflexoes/o-cerebro-do-mentiroso.html
http://www.inpaonline.com.br/artigos/voce/mentira.htm